sábado, 14 de setembro de 2013

ARTE CONTRA A BARBÁRIE

Ainda oportuno!!!



"O teatro é uma forma de arte cuja especificidade a torna insubstituível 
como registro, difusão e reflexão do imaginário de um povo.
Sua condição atual reflete uma situação social e política grave.
É inaceitável a mercantilização imposta à cultura no País, na qual predomina 
uma política de eventos.
É fundamental a existência de um processo continuado de trabalho e pesquisa 
artística.
Nosso compromisso ético é com a função social da arte.
A produção, circulação e fruição dos bens culturais é um direito 
constitucional, que não tem sido respeitado.
Uma visão mercadológica transforma a obra de arte em "produto cultural". E 
cria uma série de ilusões que mascaram a produção cultural no Brasil de 
hoje.
A atual política oficial, que transfere a responsabilidade do fomento da 
produção cultural para a iniciativa privada, mascara a omissão que 
transforma os órgãos públicos em meros intermediários de negócios.
A aparente quantidade de eventos faz supor uma efervescência, mas, na 
verdade, disfarça a miséria de investimentos culturais a longo prazo que 
visem à qualidade da produção artística.
A maior das ilusões é supor a existência de um mercado. Não há mecanismos 
regulares de circulação de espetáculos no Brasil. A produção teatral é 
descontínua e no máximo gera subemprego.
Hoje, a política oficial deixou a cultura restrita ao mero comércio do 
entretenimento. O teatro não pode ser tratado sob a ótica economicista.
A cultura é o elemento de união de um povo que pode fornecer-lhe dignidade e 
o próprio sentido de nação. É tão fundamental quanto a saúde, o transporte e 
a educação. É, portanto, prioridade do Estado.
 Torna-se imprescindível uma política cultural estável para a atividade 
teatral. Para isso são necessárias, de imediato, ações no sentido de:
 Definição da estrutura, do funcionamento e da distribuição de verbas dos 
órgãos públicos voltados à cultura.
 Apoio constante à manutenção dos diversos grupos de teatro do País.
 Política regional de viabilização de acesso do público aos espetáculos.
 Fomento à formulação de uma dramaturgia nacional.
 Criação de mecanismos estáveis e permanentes de fomento à pesquisa e 
experimentação teatral.
 Recursos e políticas permanentes para a construção, manutenção e ocupação 
dos teatros públicos.
 Criação de programas planejados de circulação de espetáculos pelo País.
 Esse texto é expressão do compromisso e responsabilidade histórica de seus 
signatários com a idéia de uma prática artística e política que se 
contraponha às diversas faces da barbárie - oficial e não oficial - que 
forjaram e forjam um País que não corresponde aos ideais e ao potencial do 
povo brasileiro."

Cia. do Latão, Folias D´Arte, Parlapatões Patifes & Paspalhões, Pia Fraus, Tapa, União & Olho Vivo, Monte Azul e Aimar Labaki, Beto Andretta, Carlos Francisco Rodrigues, César Vieira, Eduardo Tolentino, Fernando Peixoto,  
Gianni Ratto, Hugo Possolo, Marco Antonio Rodrigues, Reinaldo Maia, Sérgio de Carvalho, Tadeu de Souza e Umberto Magnani.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A CARAVANA DA ILUSÃO


  Ano: 2004 
  Direção: Marcos Vogel

   O que fazer para manter unido o grupo diante das incertezas que nos atormenta a cada bifurcação do caminho? Por onde ir, que rumo tomar? Como não desanimar e sucumbir diante das ameaças que irrompem na escuridão da noite? Como resistir ao desejo que salta do seu repouso no coração de cada um? Como entender o luto e ao mesmo tempo celebrar a vida?
 O texto de Alcione Araújo, com montagem de rua da Cia. Reviu a volta,  trata com poesia temas tão dolorosos como as limitações do ser humano, a difícil escolha de um bem (ética), as freqüentes perdas, as dúvidas, paixões, tormentas e ameaças; a transcendencia, ressurreição e luto.

 “Poética e não realista, a peça tem longas rubricas que, em lugar de informações objetivas sobre a ação, sugerem climas de tensão, apreensão e mistério. Ao longo da narrativa, mudos falam, cavalos voam, uma cigana estéril arrebata o coração de irmãos, irrompem paixões impressentidas e avassaladoras, há nascimento e morte, instauram-se disputas, desenlaces e despedidas. “ (Alcione Araújo)




   


Um dos personagens conta: “ Um homem sonha com uma rosa e, ao acordar, a rosa está em sua mão. E aí?" 

Esta é uma citação do livro dos sonhos de Jorge Luís Borges, mestre do Realismo fantástico na literatura Latino americana, presente no texto de Alcione  Araújo e uma das fontes de estudo para a montagem. Caminhando por essa trilha, não realista , do teatro enquanto metáfora da vida, a montagem apresenta claras opções estéticas. O texto se estrutura, por um lado, pela reedição da metáfora renascentista “ a vida é um teatro” e por outro, pelo imaginário relacionado a incapacidade humana de encontrar respostas ás suas limitações.





        As longas rubricas foram incorporadas como parte do texto e se assemelham a prólogos Elizabetanos e coros gregos. Foram introduzidos dois personagens que utilizam essas rubricas, esses simbolizam o destino e o imponderável em todas as suas facetas e matizes. Também o cenário, projetado e executado pelo grupo,  nos remete a roda da vida, ao tempo e espaço eternos, ao mito do eterno retorno.
        










Rico em metáforas, o espetáculo pretende que o público viva as angustias e indecisões, que dizem  respeito ao ser humano , juntamente com os atores. Que se enxerguem enquanto espécie ao longo desse delírio em um ato.


































       “A caravana anda em circulo e a terra é redonda. É infinito o caminho a percorrer. Como são infinitos os caminhos da arte, da criação e é infinito o caminho da vida.    (Alcione Araújo)


 

Aleixo da Cruz--------------------------------Destino
Leo Kildare------------------------------------- Bufo


Luciana Veloso -----------------------------Bela


Tânia mara---------------------------Ziga/Destino


Wellison Pimenta ----------------------Lorde

Wesley Simões------------------------------- Roto 






Direção----------------------------------- Marcos Vogel 

Preparação Corporal:-----------------Cia. Reviu a volta 
Figurinos :--------------------- Wesley Simões/Aleixo da Cruz 
Cenários: --------------------Wesley Simões/Aleixo da Cruz 
Cenotécnica: --------------------------Wellison Maurício 
Supervisão musical: -----------------Luciana Veloso 












sábado, 7 de setembro de 2013

O que mancha a imagem do Brasil no exterior não é a falta de alta costura, por Maria Rita Kehl





Segue a carta aberta de Maria Rita Kehl à ministra Marta Suplicy. A carta é curta e profundamente objetiva. O governo precisa fazer opções. Deixar os Pontos de Cultura à míngua e incentivar a alta costura, é algo absurdo. E algo que aponta lados. Que demonstra escolhas. Ou seja, menos arte popular. Mais elitismo. E tudo em nome da economia.


"Prezada Ministra Marta, como vai?


Escrevo para lhe dizer que concordo com a sua afirmação: moda é cultura. Alta culinária também. No entanto, eu não penso que sejam estas as expressões culturais que precisam dos incentivos do MinC.


O argumento de que desfiles sofisticados "melhoram a imagem do brasil no exterior", a meu ver, é inconveniente. Esta era uma preocupação dos governos militares: enquanto havia tortura aqui dentro, eles se preocupavam com a imagem do Brasil lá fora. Ora, só o fim da ditadura poderia melhorar nossa imagem frente aos países democráticos.


Hoje, em plena democracia, a tortura só é praticada nas delegacias da periferia, contra negros e pobres cujas famílias são intimidadas para que as denúncias não cheguem nem à sociedade local, quanto menos à comunidade internacional. Então, oficialmente, vivemos em plena democracia. Mas o que é que "mancha" a imagem do Brasil no exterior? Não é a falta de alta costura/alta cultura. É a permanência da desigualdade, que nem os programas sociais dos governos petistas conseguem debelar de fato, embora tenham sim diminuído significativamente a miséria que excluía milhões de brasileiros dos padrões mínimos de consumo.


A desigualdade que persiste no Brasil já não é a que impede o povo brasileiro de se alimentar. É a que impede o acesso das classes baixas aos meios de produção. Pescadores perdem as condições de pescar – e com isso, sua cultura tradicional – expulsos de suas comunidades para se tornarem, na melhor das hipóteses, trabalhadores braçais não qualificados. Lavradores, quilombolas e grupos indígenas perdem suas terras – e com isso, as condições de manter suas práticas culturais – expulsos pela ganância do agronegócio.


Os Pontos de Cultura criados na gestão Gilberto Gil estão abandonados em muitas regiões do país. Músicos e poetas das periferias das grandes cidades não conseguem recursos para mostrar sua arte para o resto do país. Pequenos grupos de teatro, que sobrevivem graças à Lei do Fomento criada na sua gestão na Prefeitura de São Paulo, dificilmente conseguem levar sua produção cultural para outros Estados, muito menos para outros países.


Não prossigo indefinidamente com exemplos que sei que são de seu conhecimento. Termino com uma afirmação que me parece até banal: em um país tão desigual quanto o nosso, fundos públicos só deveriam ser utilizados para possibilitar o crescimento de quem não tem acesso ao dinheiro privado.


Tão simples assim. Por isso estou certa de que, a cada vez que o MinC, o MEC, o Ministério da Saúde e quaisquer outros agirem na direção oposta à da diminuição da desigualdade, a sociedade brasileira vai se indignar. As expressões dessa justa indignação é que hão de "manchar a imagem do Brasil no exterior"'.


Respeitosamente, Maria Rita Kehl.


* Maria Rita Kehl, psicanalista, ensaísta, crítica literária, poetisa e cronista brasileira.1 Em 2010, foi vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria "Educação, Psicologia e Psicanálise" com o livro O Tempo e o Cão.2 3 e recebeu o Prêmio Direitos Humanos do governo federal na categoria "Mídia e Direitos Humanos".


Fonte: Revista Fórum

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O Ator - Plinio Marcos


O ATOR
Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.

Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.

O ator tem esse dom.
Ele tem o talento de atingir as pessoas
Nos pontos onde não existem defesas.
O ator, não o autor ou o diretor,
Tem esse dom.
Por isso o artista do teatro é o ator.
O público vai ao teatro por causa dele.
O autor e o diretor só são bons na medida
Em que dão margem a grandes interpretações.

Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.

Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as ditorções de caráter
De seu personagem.

Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.

Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.

Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.

KRAPP






FICHA TÉCNICA
Direção: Marcelo Cordeiro
Adaptação: Cia. Reviu a volta
Atuação: Aleixo da Cruz e Wesley Simões
Assistência: Alex Silva
Cenotécnica e contraregragem: Wellison Pimenta
Luz: Joana D’arc e Henrique Martins
Cenários: Aleixo da Cruz, Marcelo Cordeiro e Wesley Simões
                  Figurinos: Aleixo da Cruz e Wesley Simões
Pinturas: Aleixo da Cruz
Costura:Vera Lúcia Silveira Moreira
Bordados: Zilda Costa
Produção: Cia. Reviu a volta